UMA MULHER DE VIDA (NADA) FÁCIL

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AQUINO CORRÊA (*)

Chamava-se Guiomar. Ou melhor: “dona” Guiomar. Sobrenome? Nunca se soube, não era importante. Devia ser uma mulher na faixa dos 40 anos, se tanto – portanto, já “acabada”, pelos padrões estéticos da época (anos 1960).
Era dona de um cabaré, na pequena cidade de Rio Brilhante, onde nasci, no interior do então uno estado de Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul).
Sempre a via passar em frente de casa, a pé ou de charrete (veiculo muito comum no interior, de tração animal).
Sempre altiva e bem trajada, fazia-se ser respeitada pela sociedade local. Ia à missa aos domingos, como qualquer outra mulher “de respeito”, assim como participava das celebrações e festas religiosas. Muitos a olhavam de soslaio, com um certo olhar de desprezo.
Afrontá-la? Questionar sua posição social, considerada de nível inferior? Nem pensar! Não admitia nenhum tipo de questionamento das famílias “de bem”, nem do pároco local.
Os homens? Ah, estes tinham lá, com certeza, seus motivos para respeitá-la – e até temê-la: ela era depositária dos segredos mais íntimos dos senhores mais respeitáveis da cidade…!
Fico pensando – ao lembrar daquela figura dos meus tempos de criança -, nos segredos que teria guardado em seu íntimo, ao exercer a “mais antiga das profissões” por tantos anos, numa cidade tão pequena…!
Num tempo em que a ignorância, o machismo (a maioria dos homens andava armada) e o preconceito eram coisas banais, teria a “dona” Guiomar acolhido muitas jovens, “perdidas” como ela, em seu estabelecimento?
Sim, porque, naquele tempo, era comum moças jovens (muitas delas, adolescentes) serem expulsas de casa, ao perderem a virgindade. Eram consideradas decaídas, sem moral e, por isso mesmo, não deveriam conviver com as famílias “de bem”.
Caso algum parente (ou pessoa amiga), não estendesse a mão, dando apoio àquelas pobres moças, o mais comum era que entrassem para a prostituição – e fossem parar em casas como a de “dona” Guiomar. Muitas tinham filhos na zona; raramente se casavam.
Assim eram os costumes sociais daquele tempo: a maioria dos honens tinha casa, mulher, filhos e uma “amiga” na zona. Só não podia “misturar” as coisas…!
O certo era que “dona” Guiomar, no alto de sua experiência, sabia se impor naquele sociedade provinciana e preconceituosa. Todos a respeitavam, ou mesmo a temiam. Se por admiração, inveja ou simples conveniência, nunca se irá saber – até porque seus mais íntimos segredos, deve tê-los levados todos para o túmulo!

(*) AQUINO CORRÊA é jornalista, escritor, MBA em Administração, e Auditor Fiscal (aposentado) da Sefaz/MT.

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